O casal Heloisa e Marcelo na luta contra as bitucas/Foto: Divulgação
Já foi tempo em que fumar cigarro transmitia status e glamour. Embalado pelos filmes de Hollywood, o fumo enrolado industrialmente foi ganhando adeptos ao redor do mundo, independente de classe social, idade ou sexo. As fábricas aliavam aos seus produtos sloglans que denotavam prazer, liberdade e personalidade. Entretanto, por trás de tudo isso, um vício de proporções catastróficas foi se alastrando amarrando vítimas que muitas vezes só largam o mal após a morte.
No Dia Nacional de Combate ao Fumo, comemorado em 29 de agosto, o País se levanta para chamar atenção deste péssimo hábito. Em São Paulo, foi lançado pelo governador José Serra, no dia 27 de agosto de 2007, um programa pioneiro para eliminar a fumaça do cigarro dos ambientes fechados. O Programa de Promoção de Ambientes Livres do Tabaco premia empresas, edifícios e outros espaços públicos (como bares, restaurantes, lojas e shoppings) que banirem totalmente o fumo de seus recintos. A adesão é voluntária.
A primeira instituição privada a abraçar a causa foi a Johnson & Johnson, empresa mundial de produtos para a saúde. Com uma campanha progressiva para manter o »Ambiente Livre do Tabaco», ela erradicou o consumo de cigarros de todas as suas dependências e instalações ao redor do mundo. No Brasil, medida beneficia diretamente mais de 4,8 mil funcionários, sendo que, até o momento, cerca de 380 pessoas já aderiram ao programa de assistência da empresa àqueles que desejam parar de fumar.
E a corrida é contra o tempo. Anualmente, morrem cerca de 200 mil pessoas vítimas do tabagismo, só no território nacional. E o pior está por vir. Estima-se que um bilhão de pessoas vão morrer vítimas de doenças relacionadas ao fumo ainda neste século, caso países ricos e pobres não se mobilizem contra o tabagismo, alerta a Organização Mundial da Saúde (OMS). Médicos oncologistas também avisam que o consumo de cigarros é a mais devastadora causa evitável de doenças e mortes prematuras que a história da humanidade já registrou.
Ciente deste quadro alarmante, o Hospital Sírio-Libanês (HSL), em São Paulo, se prepara para assumir o compromisso de cuidar da saúde global da população, por meio da difusão de informação. Nesta sexta-feira, dia 29, o HSL preparou uma programação especial para o Dia Nacional de Combate ao Fumo. A partir das 12h00, especialistas do Núcleo Avançado do Tórax participam de um chat aberto à população, onde irão responder às perguntas dos internautas sobre as conseqüências do fumo para a saúde de adultos e crianças, impacto do fumo passivo, além de dar dicas para quem deseja largar o cigarro.
E as medidas não param por ai. O governo do Estado de São Paulo vai encaminhar à Assembléia Legislativa um projeto de lei que proíbe terminantemente o fumo em ambientes de uso coletivo públicos ou privados, incluindo bares, restaurantes, boates, hotéis e áreas comuns de condomínios, em todo o território estadual. É a mais dura legislação contra o tabaco já lançada na história de São Paulo, com sanções para os estabelecimentos onde a infração for constatada.
Nas praias - Há quem diga que fumar ao ar livre está no seu direito. De fato, mas lançar mão do filtro de cigarro em vias públicas e principalmente em matas, estradas, rios, lagos, mares e praias, além de colocar em perigo com risco de incêndio, as bitucas de cigarros poluem o solo e causam diversas mortes entre animais e aves marinhas.
Responsável pela gestão ambiental do maior campeonato de surf do País, o SuperSurf, a ONG SOS Praias Brasil promove durante os eventos sua campanha de conscientização ambiental. Para evitar que as areias se tornem um verdadeiro cinzeiro a céu aberto, Marcelo Marinello, fundador da ONG, incorpora o Homem Bituca ou o Bitucão.
Vestido com uma fantasia de espuma em formato de um filtro de cigarro gigante, ele percorre as praias munido de uma placa, folhetos e cinzeiros ecológicos, sempre disposto a incentivar os fumantes para recolherem suas bitucas das areias e até de largar o vício. »As pessoas olham com muito bom humor e surpresa, por se depararem com uma figura fantasiada em plena praia. Elas recebem bem a presença do Homem-Bituca. Poucas pessoas vêem de forma antipática», defende Heloisa de Azevedo, presidente da ONG e esposa de Marcelo.
Segundo ela, quando o Bitucão se aproxima de quem está fumando, a reação de algumas pessoas é de tentar esconder o cigarro, mas na maioria das vezes, a iniciativa é aplaudida. No ano passado, no Dia Nacional de Combate ao Fumo, Marcelo Marinello foi até a Avenida Paulista, no horário do rush, e chamou atenção de quem passava.
Atuando nas praias desde 1999, Heloisa percebe alguma mudança. »Quanto ao lixo, observamos que em muitas praias nas quais normalmente passamos, diminuiu a quantidade, mas sempre encontramos muitas bitucas. No último evento, realizado na praia de Maresias, retiramos 327 bitucas em mais ou menos 100 metros de praia, numa gincana com apenas sete crianças em 15 minutos».
Morte no ar - Pelo menos 2.655 não-fumantes morrem a cada ano no Brasil por doenças vinculadas ao tabagismo passivo, segundo pesquisa realizada pelo Instituto Nacional de Câncer. Aqueles que respiram a fumaça do tabaco têm um risco maior de desenvolver doenças relacionadas ao tabagismo. Quanto maior o tempo em que o não fumante fica exposto à poluição tabagística ambiental, maior a chance de adoecer.
As crianças, por terem uma freqüência respiratória mais elevada, são mais atingidas, sofrendo conseqüências drásticas sobre a sua saúde, incluindo bronquite e pneumonia, desenvolvimento e exacerbação da asma e infecções do ouvido médio. De acordo com a análise, ao menos sete brasileiros morrem diariamente por doenças provocadas pela exposição passiva à fumaça do tabaco. A maioria das mortes ocorre entre mulheres (60,3%).
Na pesquisa, que estimou o número e a proporção de óbitos, foram consideradas apenas as três principais doenças relacionadas ao tabagismo passivo: câncer de pulmão, doenças isquêmicas do coração e acidentes vasculares cerebrais. O estudo considera como fumantes passivos as pessoas que nunca fumaram e que moravam com pelo menos um fumante no mesmo domicílio.Fonte:Fama Assessoria)