Nei Martins/Foto: Paulo Zumbi
O folclorista da Fundação de Arte e Cultura de Ubatuba, Sidnei Martins Lemos, faleceu nesta terça-feira, 4, vítima de câncer. Pela importância do seu legado e pelas inúmeras amizades que conquistou ao longo de mais de 30 anos morando em Ubatuba, a Igreja Matriz recebeu a presença emocionada de centenas de pessoas. Em vida, Nei Martins, como era conhecido, lutava pelo resgate da cultura caiçara, em sua plenitude, incluindo as danças, músicas, comidas, festas, esportes, manifestações religiosas e atividades econômicas.
O presidente da Fundart, Pedro Paulo Teixeira Pinto afirma que começou a trabalhar com Nei Martins em meados dos anos 80 e afirma que a perda para o município é significativa. “O que ele deixou foi uma vontade ainda maior de trabalhar de forma forte, seguindo o seu exemplo de luta e coragem.”
Entre tantas pessoas que conhecia, Nei Martins tinha um grande amigo, chamado Élvio Damásio. Élvio conta que os dois se consideravam verdadeiros irmãos e companheiros nas atividades culturais. “O Nei era um caiçara que não nasceu aqui. Ele tinha uma grande paixão pela nossa cidade, nossa gente e nossa cultura. Não tinha uma capela, igreja ou bairro que ele não tenha freqüentado e participado das manifestações e festas. Aprendi muito com ele”, emociona-se.
O prefeito Eduardo Cesar também ficou consternado e afirmou que a maior homenagem que pode ser prestada a Nei Martins é a continuidade ao seu trabalho. “Ele ensinou a todos nós o respeito à nossa cultura, a valorização dessa riqueza. Este é um legado que não pode se perder, é algo que perpetuará a memória deste grande amigo.”
Um pouco da história de Nei Martins
Carnaval de 1976. Nascia uma nova escola de samba em Ubatuba. »Mocidade Alegre do Itaguá» era o nome ideal para essa escola, que foi composta por um grupo de jovens amigos daquele bairro. Nei Martins era um dos componentes da »Mocidade» ubatubense. Para o primeiro de muitos carnavais que se seguiriam, o enredo do samba tinha que ser mais que perfeito. »Nós precisávamos de um enredo que tivesse a cara da cidade, da nossa gente, da nossa história. Decidimos por fazer um desfile que mostrasse a cultura popular do povo caiçara, conta Nei.»
Foi durante a pesquisa que antecedeu a composição do enredo do Carnaval de 76, que Nei Martins percebeu o quanto os costumes e as tradições ubatubenses estavam se modificando. Cantigas, danças, comidas, roupas, modos de ganhar dinheiro... Tudo se transformava a olhos vistos, como a própria paisagem do município. Os costumes, antes adquiridos como herança de família num passado não muito distante agora vagavam, em fragmentos de memórias, aqui e ali. Não havia nada documentado em livros, a cultura caiçara estava ameaçada de extinção.
Naquele momento, um grande trabalho de resgate se iniciava na vida do jovem Nei Martins. Apaixonado pelos »causos», pela devoção religiosa e pelas manifestações artísticas dos caiçaras, ele começou a colher informações, depoimentos e imagens que remontassem a história. Passou anos, »proseando» com os antigos, anotando o que eles diziam. Nei acabou desenvolvendo um trabalho intuitivamente jornalístico, que descreve com detalhes personagens e experiências.
Dentro da simplicidade típica da maioria dos caiçaras, Nei sabia reconhecer a grandeza de um patrimônio imaterial. »As manifestações folclóricas fazem parte da história de um povo, uma gente que, muitas vezes, não sabe nem escrever o próprio nome, mas tem uma cultura popular riquíssima. Essa cultura está se perdendo, sendo esmagada pelas construções, pela modernidade e pelas novas culturas que migram e se misturam.»
Sua missão não parou por aí. Durante os mais de 20 anos em que trabalhou na Fundart, organizava as mais tradicionais festas da cidade. Fandango, Ciranda, Chiba, Cana-Verde, Recortada, Dança da Fita, Corrida de Canoas, Peregrinação da Bandeira do Divino e Folia de Reis são exemplos de manifestações que misturam a devoção religiosa e a cultura popular. Sempre que tinha oportunidade, reunia os caiçaras mais antigos e os jovens que ainda se dispunham a participar, para mostrar ao público a cultura que não pode morrer.
O sonho do folclorista
Na opinião de Nei Martins, a única forma de preservar a cultura caiçara é dar apoio às fundações de arte que fazem um elo de ligação entre o antigo e o novo. Entre muitos projetos que permeavam seu trabalho junto à Fundação de Arte e Cultura de Ubatuba (Fundart), seu maior sonho era ver a implantação de um Centro de Tradições Caiçaras, que trate exclusivamente da cultura local. »Desde as festas, a comida, o ato de esculpir uma canoa, tecer uma rede de pesca, cozinhar um peixe com banana, tudo centralizado em um só ambiente, mostrando para turistas e moradores que nós temos uma cultura, que temos orgulho disso e queremos mantê-la viva. Isso seria um grande passo, rumo à preservação da nossa identidade», afirmava.(Fonte: Assessoria de Comunicação – PMU)
Nei Martins/Foto: Paulo Zumbi
O folclorista da Fundação de Arte e Cultura de Ubatuba, Sidnei Martins Lemos, faleceu nesta terça-feira, 4, vítima de câncer. Pela importância do seu legado e pelas inúmeras amizades que conquistou ao longo de mais de 30 anos morando em Ubatuba, a Igreja Matriz recebeu a presença emocionada de centenas de pessoas. Em vida, Nei Martins, como era conhecido, lutava pelo resgate da cultura caiçara, em sua plenitude, incluindo as danças, músicas, comidas, festas, esportes, manifestações religiosas e atividades econômicas.
O presidente da Fundart, Pedro Paulo Teixeira Pinto afirma que começou a trabalhar com Nei Martins em meados dos anos 80 e afirma que a perda para o município é significativa. “O que ele deixou foi uma vontade ainda maior de trabalhar de forma forte, seguindo o seu exemplo de luta e coragem.”
Entre tantas pessoas que conhecia, Nei Martins tinha um grande amigo, chamado Élvio Damásio. Élvio conta que os dois se consideravam verdadeiros irmãos e companheiros nas atividades culturais. “O Nei era um caiçara que não nasceu aqui. Ele tinha uma grande paixão pela nossa cidade, nossa gente e nossa cultura. Não tinha uma capela, igreja ou bairro que ele não tenha freqüentado e participado das manifestações e festas. Aprendi muito com ele”, emociona-se.
O prefeito Eduardo Cesar também ficou consternado e afirmou que a maior homenagem que pode ser prestada a Nei Martins é a continuidade ao seu trabalho. “Ele ensinou a todos nós o respeito à nossa cultura, a valorização dessa riqueza. Este é um legado que não pode se perder, é algo que perpetuará a memória deste grande amigo.”
Um pouco da história de Nei Martins
Carnaval de 1976. Nascia uma nova escola de samba em Ubatuba. »Mocidade Alegre do Itaguá» era o nome ideal para essa escola, que foi composta por um grupo de jovens amigos daquele bairro. Nei Martins era um dos componentes da »Mocidade» ubatubense. Para o primeiro de muitos carnavais que se seguiriam, o enredo do samba tinha que ser mais que perfeito. »Nós precisávamos de um enredo que tivesse a cara da cidade, da nossa gente, da nossa história. Decidimos por fazer um desfile que mostrasse a cultura popular do povo caiçara, conta Nei.»
Foi durante a pesquisa que antecedeu a composição do enredo do Carnaval de 76, que Nei Martins percebeu o quanto os costumes e as tradições ubatubenses estavam se modificando. Cantigas, danças, comidas, roupas, modos de ganhar dinheiro... Tudo se transformava a olhos vistos, como a própria paisagem do município. Os costumes, antes adquiridos como herança de família num passado não muito distante agora vagavam, em fragmentos de memórias, aqui e ali. Não havia nada documentado em livros, a cultura caiçara estava ameaçada de extinção.
Naquele momento, um grande trabalho de resgate se iniciava na vida do jovem Nei Martins. Apaixonado pelos »causos», pela devoção religiosa e pelas manifestações artísticas dos caiçaras, ele começou a colher informações, depoimentos e imagens que remontassem a história. Passou anos, »proseando» com os antigos, anotando o que eles diziam. Nei acabou desenvolvendo um trabalho intuitivamente jornalístico, que descreve com detalhes personagens e experiências.
Dentro da simplicidade típica da maioria dos caiçaras, Nei sabia reconhecer a grandeza de um patrimônio imaterial. »As manifestações folclóricas fazem parte da história de um povo, uma gente que, muitas vezes, não sabe nem escrever o próprio nome, mas tem uma cultura popular riquíssima. Essa cultura está se perdendo, sendo esmagada pelas construções, pela modernidade e pelas novas culturas que migram e se misturam.»
Sua missão não parou por aí. Durante os mais de 20 anos em que trabalhou na Fundart, organizava as mais tradicionais festas da cidade. Fandango, Ciranda, Chiba, Cana-Verde, Recortada, Dança da Fita, Corrida de Canoas, Peregrinação da Bandeira do Divino e Folia de Reis são exemplos de manifestações que misturam a devoção religiosa e a cultura popular. Sempre que tinha oportunidade, reunia os caiçaras mais antigos e os jovens que ainda se dispunham a participar, para mostrar ao público a cultura que não pode morrer.
O sonho do folclorista
Na opinião de Nei Martins, a única forma de preservar a cultura caiçara é dar apoio às fundações de arte que fazem um elo de ligação entre o antigo e o novo. Entre muitos projetos que permeavam seu trabalho junto à Fundação de Arte e Cultura de Ubatuba (Fundart), seu maior sonho era ver a implantação de um Centro de Tradições Caiçaras, que trate exclusivamente da cultura local. »Desde as festas, a comida, o ato de esculpir uma canoa, tecer uma rede de pesca, cozinhar um peixe com banana, tudo centralizado em um só ambiente, mostrando para turistas e moradores que nós temos uma cultura, que temos orgulho disso e queremos mantê-la viva. Isso seria um grande passo, rumo à preservação da nossa identidade», afirmava.(Fonte: Assessoria de Comunicação – PMU)