A Associação Comunidade dos Remanescentes do Quilombo da Fazenda (ACRQF) realizará, entre os dias 3 e 5 de novembro, a I Grande Festa do Quilombo da Fazenda, em Ubatuba. O evento acontecerá no Bairro Fazenda da Caixa, que fica em frente à Praia da Fazenda, região norte de Ubatuba cerca de 30 km do Centro. Uma extensa agenda está programada, entre esportes, danças tradicionais, culinária, shows e bingo. Entre as delícias típicas, os visitantes poderão apreciar o famoso "Azul-Marinho", prato feito à base de peixe e banana verde.
O evento, que tem como principais objetivos promover um resgate da cultura afro-brasileira e caiçara, além de arrecadar fundos para a Associação, recebe o apoio da vereadora Luciana Machado e da Prefeitura de Ubatuba. A presidente da Associação, Laura de Jesus Braga, afirma que a festa é uma forma de elevar a auto-estima da comunidade. "Com essa festa, conseguimos atrair um público bom, gerar uma fonte de renda para a comunidade, e mostrar a nossa cultura. Nossa intenção e ampliar cada vez mais e fazer com que a Festa do Quilombo se torne uma tradição, um evento anual".
O prefeito Eduardo Cesar afirma que o apoio a esse tipo de iniciativa da comunidade é uma forma de manter vivas as tradições. "O povo legitimamente caiçara surgiu dessa mistura entre africanos, índios e europeus. Aqui em Ubatuba, temos o privilégio de conservar duas comunidades quilombolas e duas indígenas. Não podemos deixar que a cultura desses povos se perca diante da modernidade".
Brincadeiras divertidas, como um campeonato de futebol, corrida de saco, pau de sebo e quebra-braço fazem parte da programação. Entre as danças tradicionais, o público poderá apreciar apresentações do Grupo de Jongo do Campinho, de Paraty, a Dança da Fita do Itaguá, a Ciranda e a Congada do Poruba. A festa acontece durante todo o dia. Participe!
Fazenda da Caixa: um fragmento
de história em solo ubatubense
O passado de Ubatuba está presente em pequenos detalhes encontrados aqui e ali. A Fazenda da Caixa é um desses fragmentos da história que resistem ao tempo. Indo pela BR-101, em direção ao Rio de Janeiro, de um lado avista-se a Praia da Fazenda, majestosa e bela. Do outro, há uma entrada sutil, que parece querer conduzir ao interior da Mata Atlântica. Seguindo por essa estradinha de terra, percebe-se que é uma pequena vila, de moradores legitimamente caiçaras. Algumas casinhas de pau à pique, outras de bloco, senhoras na janela, crianças com pouca roupa, brincando nos quintais de terra. De repente, o caminho se bifurca e, ao final da estradinha à esquerda, uma construção diferente obriga o motorista a interromper sua viagem.
Ali, ao lado de um rio límpido e raso, ergue-se um grande moinho, uma roda de engenho, movida pela força da água. Nas paredes do fosso que abrigam a roda de madeira, uma demonstração da contribuição e do trabalho dos escravos. Pedras gigantescas encaixadas perfeitamente, pesadas colunas, uma chaminé bem alta, construída de tijolinhos, uma caldeira de ferro, corroída pelo tempo.
No passado, mais precisamente no século XVIII, essa fazenda tinha o objetivo de beneficiar a cana, transformando-a em álcool, cachaça e açúcar. Embrenhada na mata está a Trilha do Corisco, que termina em Paraty e era uma das rotas por onde as mercadorias produzidas na “Fazenda da Caixa” seguiam. O rio, nessa época, era navegável, permitindo que a produção também seguisse em embarcações.
Hoje, os tempos são outros. A Fazenda da Caixa é chamada de “Casa da Farinha”, porque foi adaptada para a produção de farinha de mandioca, na década de 50. Virou propriedade do Governo do Estado e está situada no Núcleo Picinguaba, uma área de preservação que impede o plantio de mandioca na quantidade necessária para realizar a produção de farinha. A terra utilizada exaustivamente cansou-se de produzir e a Casa da Farinha só funciona de vez em quando.
Para as pessoas que gostam de ouvir histórias e conversar, não basta ver as paredes, é preciso ousar um pouco mais e procurar as pessoas que moram nos arredores da Fazenda. Os caiçaras mais velhos adoram receber visitas e contar seus “causos”. A cultura desse povo está se perdendo, mas ainda é possível encontrar pessoas que conhecem os costumes passados de geração para geração. Indo um pouco além da “Casa da Farinha” tem a casa do “Seu” Zé Pedro, um senhor simpático, descendente de escravos, dono de uma grande sabedoria. Seu Zé parece estar preparado para conversar sobre qualquer assunto. Apesar de não ter televisão, nem tampouco energia elétrica, assim como todos os moradores dali. É um homem politizado, um líder comunitário que conhece a todos e batalha por seus interesses. Ficando amigo do Seu Zé, o resto ele apresenta, conta a história da Fazenda da Caixa, da Casa da Farinha, dos escravos, da política municipal, das venturas e desventuras do povo caiçara e muito, muito mais...
Conversar com ele é ficar sabendo dos tempos em que a BR-101 não existia e os moradores iam para “a cidade” num pequeno barco, que ia buscando os moradores em diversas praias pelo caminho. “A gente pagava um cruzeiro pro dono do barco, mas acho que ele é que devia pagar uns três cruzeiros pra gente andar no barco dele. Espirrava um monte de água e balançava muito, a gente chegava molhado na cidade. Em Ubatuba tinha só uma pousada, tinha que pagar adiantado e não podia chegar depois das oito. Um dia, chegamos e já estava fechada, batemos na porta e o dono saiu bravo. Então, pedimos o dinheiro de volta e ele resolveu deixar a gente dormir, chegando no quarto, era pulga pulando pra todo lado”, diverte-se com a lembrança Seu Zé Pedro.
(Fonte: Assessoria de Comunicação PMU)
A Associação Comunidade dos Remanescentes do Quilombo da Fazenda (ACRQF) realizará, entre os dias 3 e 5 de novembro, a I Grande Festa do Quilombo da Fazenda, em Ubatuba. O evento acontecerá no Bairro Fazenda da Caixa, que fica em frente à Praia da Fazenda, região norte de Ubatuba cerca de 30 km do Centro. Uma extensa agenda está programada, entre esportes, danças tradicionais, culinária, shows e bingo. Entre as delícias típicas, os visitantes poderão apreciar o famoso "Azul-Marinho", prato feito à base de peixe e banana verde.
O evento, que tem como principais objetivos promover um resgate da cultura afro-brasileira e caiçara, além de arrecadar fundos para a Associação, recebe o apoio da vereadora Luciana Machado e da Prefeitura de Ubatuba. A presidente da Associação, Laura de Jesus Braga, afirma que a festa é uma forma de elevar a auto-estima da comunidade. "Com essa festa, conseguimos atrair um público bom, gerar uma fonte de renda para a comunidade, e mostrar a nossa cultura. Nossa intenção e ampliar cada vez mais e fazer com que a Festa do Quilombo se torne uma tradição, um evento anual".
O prefeito Eduardo Cesar afirma que o apoio a esse tipo de iniciativa da comunidade é uma forma de manter vivas as tradições. "O povo legitimamente caiçara surgiu dessa mistura entre africanos, índios e europeus. Aqui em Ubatuba, temos o privilégio de conservar duas comunidades quilombolas e duas indígenas. Não podemos deixar que a cultura desses povos se perca diante da modernidade".
Brincadeiras divertidas, como um campeonato de futebol, corrida de saco, pau de sebo e quebra-braço fazem parte da programação. Entre as danças tradicionais, o público poderá apreciar apresentações do Grupo de Jongo do Campinho, de Paraty, a Dança da Fita do Itaguá, a Ciranda e a Congada do Poruba. A festa acontece durante todo o dia. Participe!
Fazenda da Caixa: um fragmento
de história em solo ubatubense
O passado de Ubatuba está presente em pequenos detalhes encontrados aqui e ali. A Fazenda da Caixa é um desses fragmentos da história que resistem ao tempo. Indo pela BR-101, em direção ao Rio de Janeiro, de um lado avista-se a Praia da Fazenda, majestosa e bela. Do outro, há uma entrada sutil, que parece querer conduzir ao interior da Mata Atlântica. Seguindo por essa estradinha de terra, percebe-se que é uma pequena vila, de moradores legitimamente caiçaras. Algumas casinhas de pau à pique, outras de bloco, senhoras na janela, crianças com pouca roupa, brincando nos quintais de terra. De repente, o caminho se bifurca e, ao final da estradinha à esquerda, uma construção diferente obriga o motorista a interromper sua viagem.
Ali, ao lado de um rio límpido e raso, ergue-se um grande moinho, uma roda de engenho, movida pela força da água. Nas paredes do fosso que abrigam a roda de madeira, uma demonstração da contribuição e do trabalho dos escravos. Pedras gigantescas encaixadas perfeitamente, pesadas colunas, uma chaminé bem alta, construída de tijolinhos, uma caldeira de ferro, corroída pelo tempo.
No passado, mais precisamente no século XVIII, essa fazenda tinha o objetivo de beneficiar a cana, transformando-a em álcool, cachaça e açúcar. Embrenhada na mata está a Trilha do Corisco, que termina em Paraty e era uma das rotas por onde as mercadorias produzidas na “Fazenda da Caixa” seguiam. O rio, nessa época, era navegável, permitindo que a produção também seguisse em embarcações.
Hoje, os tempos são outros. A Fazenda da Caixa é chamada de “Casa da Farinha”, porque foi adaptada para a produção de farinha de mandioca, na década de 50. Virou propriedade do Governo do Estado e está situada no Núcleo Picinguaba, uma área de preservação que impede o plantio de mandioca na quantidade necessária para realizar a produção de farinha. A terra utilizada exaustivamente cansou-se de produzir e a Casa da Farinha só funciona de vez em quando.
Para as pessoas que gostam de ouvir histórias e conversar, não basta ver as paredes, é preciso ousar um pouco mais e procurar as pessoas que moram nos arredores da Fazenda. Os caiçaras mais velhos adoram receber visitas e contar seus “causos”. A cultura desse povo está se perdendo, mas ainda é possível encontrar pessoas que conhecem os costumes passados de geração para geração. Indo um pouco além da “Casa da Farinha” tem a casa do “Seu” Zé Pedro, um senhor simpático, descendente de escravos, dono de uma grande sabedoria. Seu Zé parece estar preparado para conversar sobre qualquer assunto. Apesar de não ter televisão, nem tampouco energia elétrica, assim como todos os moradores dali. É um homem politizado, um líder comunitário que conhece a todos e batalha por seus interesses. Ficando amigo do Seu Zé, o resto ele apresenta, conta a história da Fazenda da Caixa, da Casa da Farinha, dos escravos, da política municipal, das venturas e desventuras do povo caiçara e muito, muito mais...
Conversar com ele é ficar sabendo dos tempos em que a BR-101 não existia e os moradores iam para “a cidade” num pequeno barco, que ia buscando os moradores em diversas praias pelo caminho. “A gente pagava um cruzeiro pro dono do barco, mas acho que ele é que devia pagar uns três cruzeiros pra gente andar no barco dele. Espirrava um monte de água e balançava muito, a gente chegava molhado na cidade. Em Ubatuba tinha só uma pousada, tinha que pagar adiantado e não podia chegar depois das oito. Um dia, chegamos e já estava fechada, batemos na porta e o dono saiu bravo. Então, pedimos o dinheiro de volta e ele resolveu deixar a gente dormir, chegando no quarto, era pulga pulando pra todo lado”, diverte-se com a lembrança Seu Zé Pedro.
(Fonte: Assessoria de Comunicação PMU)